As palavras nos traem. As suas representações e significados de conotações metafóricas, podem apresentar-se de forma errônea, ao especificar algo. Objetos distintos de naturezas e fenômenos, que vão da mais insignificante simplicidade a extraordinária e intrigante complexidade. Com objeções e exacerbações provocadas pelo emprego, por vezes incorreto dos termos, que impreterivelmente obscurecem o entendimento, e a aproximação da veracidade pertinente a um determinado fato, teoria ou fenômeno. As palavras neste sentido assumem o ingrato papel, de um obstáculo ao conhecimento e o seu desenvolvimento e florescimento.
Vistas sob a óptica de obstáculos ao pensamento às palavras podem ser até consideradas vilãs, pois edificam barreiras que por vezes necessitam-se gerações, até serem superadas na sua totalidade. Uma exemplificação do exposto acima é o termo “buraco negro”, cunhado no século XX, para designar quando uma estrela super maciça fica sem combustível. Isto faz com que o seu núcleo diminua, reduzindo drasticamente. Quando ocorre este fenômeno a gravidade da estrela produzida, escapa completamente do controle. Começando a sugar absolutamente tudo o que encontra, nem a luz é capaz de “escapar”, inclusive a massa da própria estrela. A gravidade não suporta as torrentes de energia e a estrela explode (essa explosão chama-se supernova). O que resta da extinta estrela é o buraco negro, um corpo que não reflete ou emite mais nenhum tipo de luz, é um ponto onde não se pode mais voltar. Este exemplo serve para demonstrar e elucidar que o termo “buraco negro”, certamente e objetivamente não tem referência alguma com o termo “buraco”, que conhecemos para designar uma cavidade em uma superfície maciça qualquer, ruptura, lacuna ou falta de matéria “palpável”. Entretanto por infindáveis vezes é realizado um associativismo dos termos, ligando-os de uma maneira leviana, e nos levando a uma compreensão inexata. Constituindo-se desta forma em um obstáculo, que deturpa um entendimento aproximado e válido pertinente ao fenômeno físico, elucidado neste texto.
Impreterivelmente, não se pode negar a digna relevância das palavras e suas representações. A humanidade deve muito, para não dizer a sua totalidade do seu conhecimento, a habilidade dela mesmo, expressar-se por meio de palavras. A conotação sentimental que as palavras nos transmitem, vão muito além de sua representação fria e cubista. A emoção que se pode transmitir com palavras vão do amor ao ódio, da tristeza a ansiedade, da alegria a tristeza, da razão ao fantástico, enfim do mosaico de sentimentos e informações inerentes ao ambiente que nos circunda. Sendo pretensioso em demasia tentar, mesmo que vagamente nomear as ideias e sentimentos, representados pelas palavras e suas representações.
As palavras e o invólucro que fielmente representam, exercem um papel de verdadeiros antagonismos. Ao mesmo tempo em que é o motor de arranque do nosso desenvolvimento intelectual, constituindo-se em um formidável engenho da humanidade, acabam justamente pela sua intensa maleabilidade e insuperável capacidade de representar, conceitos, ideias, fenômenos e objetos; traindo-nos. Somos reféns de nossos próprios inventos. E ao tentarmos de uma forma altiva e racional, construir pontes que nos levem a novos horizontes, e a exponencialização intelectual e compreensiva do mundo que nos circunda. Alicerçamos involuntariamente barreiras de rocha bruta, que em um futuro não muito distante, serão obstáculos dogmáticos. (Autor: Daniel Marin)